O risco sacado é uma operação financeira amplamente utilizada por grandes empresas para otimizar o fluxo de caixa e negociar prazos com fornecedores. Mas, com a publicação do Decreto 12.466/2025, essa estratégia passou a exigir mais atenção contábil e fiscal.
E não estamos falando de pequenos ajustes: é um redesenho das obrigações tributárias que pode impactar diretamente a conformidade, a apresentação do balanço e até o custo do capital.
De acordo com a KPMG, o novo enquadramento altera a forma como as empresas reportam essas operações, exigindo revisão de classificações, ajustes nas obrigações acessórias e maior controle das informações compartilhadas com o Fisco.
Neste artigo, você vai entender o que é o risco sacado e como ele funciona na prática, quais foram as mudanças trazidas pelo Decreto 12.466/2025, os principais impactos contábeis e fiscais, além de um checklist de conformidade com 5 passos essenciais para não errar em 2025.
Happy reading!
O que você vai ler neste artigo?
- Como o risco sacado funciona em detalhe, desde a aprovação da fatura até a antecipação feita pelo banco, mostrando por que essa prática se consolidou como uma das principais soluções de capital de giro no Brasil e na América Latina.
- As mudanças impostas pelo Decreto 12.466/2025, que redefiniram a classificação contábil da operação, incluíram a cobrança obrigatória de IOF e criaram novas exigências no SPED e nas notas explicativas, aumentando a responsabilidade das empresas.
- Quais etapas práticas são necessárias para implementar o risco sacado de forma segura, passando pelo diagnóstico de contratos, atualização do ERP, revisão das obrigações fiscais e integração com auditoria e conselho para reforçar a transparência.
- Os principais benefícios e desafios desse modelo de financiamento, que ao mesmo tempo fortalece a cadeia de suprimentos e amplia os prazos de pagamento, mas exige governança mais rígida, maior controle regulatório e atenção redobrada da área fiscal.
O que é risco sacado e como funciona na prática?
De acordo com o BTG Pactual, o risco sacado (ou “reverse factoring”) é uma operação de antecipação de recebíveis. O fluxo funciona assim:
- O fornecedor vende produtos ou serviços ao comprador (sacado);
- O comprador aprova a fatura;
- Um banco ou instituição financeira antecipa o pagamento ao fornecedor;
- O banco recebe o pagamento do comprador na data acordada.
Em 2023, segundo dados do Banco Mundial, mais de 20% das grandes corporações latino-americanas já utilizavam essa estrutura para fortalecer a cadeia de suprimentos, especialmente em setores como agronegócio, tecnologia e bens de consumo.
Ou seja:
- É uma solução de capital de giro para fornecedores que precisam de liquidez;
- Tem o aval do comprador, o que reduz risco para o banco;
- Diminui a taxa de inadimplência para a instituição financeira;
- Pode ser classificada como dívida ou conta a pagar, dependendo da estrutura do contrato.
No Brasil, o modelo se popularizou porque permite estender prazos de pagamento sem comprometer o fluxo de caixa da empresa compradora, um ponto crítico em mercados com juros elevados.
Risco sacado em 2025: quais são as novas exigências fiscais e como se adaptar?
Com a entrada em vigor do Decreto 12.466/2025, o risco sacado passou a ter um novo tratamento fiscal. Isso significa mais obrigações acessórias, maior rigor na classificação contábil e atenção redobrada à documentação enviada aos órgãos reguladores. A seguir, listamos as principais exigências que passaram a valer a partir de 2025:
Exigência | Detalhes |
Classificação | Passivo financeiro no balanço patrimonial, deixando de constar apenas como “fornecedores”. |
IOF | Incidência obrigatória em todas as transações, com alíquota a depender do prazo e valor. |
SPED | Identificação específica da operação, com campos adicionais no ECD e ECF. |
Notas Explicativas | Descrição detalhada das condições, taxas e impactos financeiros da operação. |
Em resumo, o que mudou com o decreto no risco sacado:
- Passa a ser classificado como passivo financeiro (dívida);
- Exige divulgação detalhada nas demonstrações contábeis;
- Gera incidência de IOF — mesmo se a empresa não contrair o crédito diretamente;
No caso do IOF, a alíquota atualmente aplicada para operações de crédito é de 0,0041% ao dia, limitada a 1,5% ao ano, mais o adicional de 0,38% sobre o valor total da operação. Isso significa que, em um contrato de R$ 1 milhão com prazo de 90 dias, o custo do IOF pode chegar a aproximadamente R$ 4.100,00, além do adicional, impactando diretamente o custo efetivo da operação. - Obriga identificação clara no SPED e em notas explicativas;
- Amplia a fiscalização da Receita Federal sobre contratos e registros.
Segundo a Ernst & Young, essa mudança deve aumentar a transparência para investidores e credores, mas também elevar o custo administrativo para manter a conformidade.
Como implementar o risco sacado?
Colocar o risco sacado em prática com segurança e conformidade exige mais do que fechar acordos com fornecedores e instituições financeiras. É preciso revisar processos internos, atualizar sistemas e garantir que as obrigações fiscais estejam sendo atendidas desde o primeiro registro.
Por exemplo: uma empresa que antes classificava o risco sacado como “fornecedores” poderia apresentar um EBITDA artificialmente mais alto, já que a operação não aparecia como dívida. Com o novo enquadramento como passivo financeiro, o mesmo valor agora entra no cálculo do endividamento, o que pode alterar covenants bancários e condições de crédito.
Etapa | Ação recomendada | Por que é importante |
Diagnóstico | Avaliar a estrutura atual, contratos e classificações contábeis. | Evita que operações sejam registradas de forma incorreta, prevenindo distorções no balanço e riscos de autuação. |
Contrato | Formalizar termos com fornecedores e bancos, incluindo cláusulas sobre prazos, taxas e responsabilidade pelo IOF. | Garante clareza jurídica e fiscal, evitando interpretações divergentes pela Receita ou auditoria. |
ERP | Atualizar integrações contábeis e fiscais para identificar e classificar automaticamente o risco sacado. | Reduz erros manuais e agiliza o fechamento contábil e fiscal. |
Compliance | Garantir divulgação correta nas demonstrações financeiras, registro no SPED e documentação para auditorias. | Mantém a conformidade regulatória e reforça a credibilidade da empresa com investidores e credores. |
Um ponto crítico é a integração de dados: empresas que mantêm seus ERPs alinhados com sistemas fiscais reduzem em até 40% o risco de autuação.
Saiba mais sobre esse assunto | Report de 2024.
Checklist de conformidade pós-decreto: quais são os 5 passos para não errar no risco sacado em 2025?
Não basta mais apenas entender o conceito de risco sacado: é preciso adotar uma rotina de conformidade que assegure transparência e precisão em cada registro. Para facilitar esse processo, preparamos um checklist prático com cinco passos essenciais para se adaptar às novas regras e evitar problemas com a Receita Federal.
- Mapeie todos os contratos existentes para identificar operações que se enquadram como risco sacado.
- Reclassifique corretamente no balanço, separando passivos financeiros de fornecedores.
- Atualize o ERP para registrar a operação com o código fiscal adequado.
- Comunique ao conselho e auditoria as mudanças, incluindo impactos no endividamento.
- Reforce o compliance fiscal com revisões periódicas e documentação para inspeções.
Seguir esse checklist ajuda a evitar interpretações erradas pela Receita e mantém a empresa preparada para auditorias internas e externas.
Por que considerar o risco sacado para sua empresa?
Mais que uma tendência financeira, o risco sacado pode ser um instrumento estratégico para quem busca eficiência, previsibilidade e relacionamento sólido com fornecedores. Segundo a McKinsey:
- Estruturas de financiamento de cadeia de suprimentos reduzem o custo total em até 5%;
- Podem melhorar em até 15 dias o prazo médio de pagamento (Days Payable Outstanding – DPO).
Para fornecedores, o benefício é ainda mais claro: aqueles que participam de programas de risco sacado crescem 1,5x mais rápido por terem acesso a capital mais barato, fortalecendo toda a cadeia produtiva. Ou seja:
- Fortalece a cadeia de suprimentos ao melhorar o capital de giro de fornecedores;
- Permite prazos mais longos sem sufocar o fluxo de caixa;
- Aumenta previsibilidade e reduz incertezas;
- Apoia metas ESG ao facilitar acesso a crédito para pequenos e médios fornecedores.
Quais são os principais desafios do risco sacado e como solucioná-los?
Mesmo sendo uma estratégia vantajosa, o risco sacado traz consigo uma série de desafios técnicos e operacionais. Para manter a conformidade e extrair o melhor da operação, é fundamental conhecer os principais obstáculos e como superá-los com eficiência:
- Reclassificação contábil pode impactar indicadores-chave e covenants financeiros;
- Custos tributários aumentam com IOF e possíveis efeitos em IRPJ/CSLL;
- Ajustes nos ERPs e integrações de dados demandam investimento;
- Risco de autuação por erro na classificação ou omissão de informações.
No SPED, por exemplo, a operação deverá ser registrada com identificação específica no Bloco J (ECD) e refletida nas demonstrações contábeis com notas explicativas que descrevam taxas, prazos e condições. A ausência dessa informação já foi motivo de autuação em operações semelhantes, segundo dados divulgados pela Receita Federal em 2024.
Como mitigar esses riscos:
- Implementar checklists internos de conformidade;
- Automatizar a classificação e reporte de operações;
- Revisar contratos com foco em clareza fiscal;
- Treinar equipes contábil e fiscal sobre o novo enquadramento.
FAQ: o que mais você precisa saber sobre o risco sacado em 2025?
Mesmo após entender as mudanças do Decreto 12.466/2025 e os cuidados necessários, ainda restam dúvidas comuns sobre o risco sacado — principalmente no que diz respeito à classificação contábil, tributação e limites de uso da operação. Para esclarecer esses pontos, reunimos abaixo as respostas para as perguntas mais frequentes que surgem em 2025.
1. Risco sacado é considerado dívida ou conta a pagar?
Com o Decreto 12.466/2025, deve ser classificado como passivo financeiro, ou seja, entra como dívida.
2. Existe incidência de IOF em todas as operações?
Sim. O novo decreto determina a incidência de IOF, mesmo quando a empresa não realiza diretamente o crédito.
3. Como evitar problemas com a Receita Federal?
Atualize seus registros contábeis, documente os contratos e integre sistemas para garantir transparência fiscal.
4. Empresas de todos os tamanhos podem operar com risco sacado?
Sim, mas é mais comum em empresas de grande porte com alto volume de compras.
5. Risco sacado é ilegal?
Não. É uma prática legal e regulada, desde que esteja adequadamente registrada e tributada.
Como o IOF pode impactar de forma estratégica suas operações com risco sacado?
Com o Decreto 12.466/2025, o IOF passou a ser um elemento central nas operações de risco sacado. Mais do que uma obrigação fiscal, ele altera diretamente o custo da operação e a forma como o fluxo de caixa deve ser planejado. Isso exige atenção redobrada da área financeira para evitar distorções e manter a conformidade.
Para apoiar gestores e equipes, preparamos um guia completo sobre IOF, que detalha os efeitos práticos desse imposto no dia a dia das empresas. O material mostra como calcular corretamente, quais são os pontos de maior risco e como estruturar controles que garantam precisão.
Neste guia, você vai encontrar:
- Exemplos práticos de cálculo do IOF em operações de risco sacado.
- Orientações para manter a conformidade fiscal e contábil em 2025.
- As 4 etapas essenciais para estruturar um controle eficiente de contas a pagar.